quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O PASSADO (NÃO MUITO DISTANTE)

Diário verídico de um dia de trabalho em 1989:


Hoje dei por mim a chegar ao escritório mesmo muito cedo. O entusiasmo justificava-se: era a primeira vez que ia efectuar as projecções financeiras dum projecto de investimento, utilizando o modelo da folha cálculo do Lotus 1-2-3 que tenho desenvolvido nos últimos meses no único PC da empresa. Na realidade, funcionou na perfeição como eu esperava e em poucas horas consegui obter os outputs dos cenários pretendidos. Isto vai mesmo ser uma revolução na forma como temos trabalhado no escritório, poupando imenso tempo. Desconfio é que os colegas mais velhos vão demorar algum tempo a aprender a utilizar esta ferramenta revolucionária, continuando a efectuar todos os cálculos com o velho método da “calculadora, lápis e papel”. Até agora, quando os resultados finais das projecções financeiras não correspondem às expectativas, qualquer mudança de pressupostos leva a um novo ciclo infernal de cálculos manuais.

Agora é urgente estudar com maior profundidade o Wordstar, o programa de processamento de texto que experimentei na semana passada. Pode ser que daqui a algum tempo não seja necessário esperar dias até que a nossa secretária acabe de dactilografar os relatórios na máquina de escrever. Na maior parte das vezes, coitada, refaz grande parte do trabalho, porque detectamos sempre alguns enganos na revisão final.

Amanhã tenho de ir todo o dia para as instalações dum cliente recolher informação, o que me vai impedir de efectuar os telefonemas urgentes que estão pendentes. Pode ser que não demore muito tempo até que consigamos vir a usar em Portugal aquela nova tecnologia dos telemóveis que já começa a aparecer noutros países. Contudo, parece que são muito caros (centenas de contos) e difíceis de transportar.

O estudo económico que temos de fazer vai-nos obrigar a obter e tratar muita informação estatística para a caracterização do mercado português e europeu. Já estou mesmo a ver as tardes passadas na biblioteca do INE e no Centro de Documentação Europeia, a folhear e fotocopiar relatórios intragáveis. Se ao menos alguém se lembrasse de uma forma de informatizar todos estes dados aos quais pudéssemos aceder de forma remota a partir do escritório.

Lembram-se? Só passaram 20 anos, mas hoje parece que foi mesmo há muito, muito tempo…

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